Memórias de um aspirante à sargento de milícias

Moro em Passos (MG), cidade pólo do sudoeste mineiro com aproximadamente 110 mil habitantes. A cidade seria ótima para jovens de 18 anos (homens, no caso) viverem em paz, se não fosse um infeliz, na metade do século XX, que provavelmente não tinha nada pra fazer na ocasião e decidiu criar um Tiro de guerra aqui. (pausa, respira fundo, olha pra cima) FILHO DA PUTA. É o que todo ano também é dito por aproximadamente 800 jovens passenses, ao pensarem em pessoa tão digna de nossa admiração.

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Jovem passense após alistamento militar

Pra que implantar o tiro de guerra numa cidade de 110 mil habitantes onde os jovens se borram quando uma bombinha de são-joão estoura à duas quadras de distancia? Pra que existe o tiro de guerra e a maldita lei do alistamento obrigatório? PRA QUE?

Sou contra qualquer tipo de violência e odeio guerra (clichê). Se por algum motivo o Brasil entrar em guerra, não é porque alguns alienados decidiram se matar que vou largar mão de toda minha filosofia de vida pra ajudá-los, fato. Por isso eles te obrigarão a pegar uma arma e sair atirando randomicamente no campo adversário! E você não tem escolha é vai, ou vai, todo o contexto de democracia e livre arbítrio se perde em meio às poças de sangue que foram derramadas inutilmente, provavelmente graças a um cara tão idiota quanto o que trouxe o tiro pra cá.

Ta bom, chega de dramatizar, e vamos direto ao assunto do post, que me inclui entre uns 700 felizardos que tiveram que se alistar no tiro contra a vontade. Por incrível que pareça alguns querem mesmo prestar serviço militar, mas nunca são escolhidos.

No ano em que você completa 18 anos é obrigatório que você se aliste no tiro de guerra (Para conceguir um documento conhecido como “reservista” que prova que você se alistou, prestou serviço ou foi dispensado, esse documento é necessário para fazer qualquer coisa dentro do Brasil) e no final do ano você tem que se apresentar, caso a sua cidade não tenha um tiro de guerra, você já ganha o documento de dispensa logo de cara. Eu fiz 18 em novembro do ano passado, e fui todo feliz para me alistar, afinal são 800 pessoas para 100 finalistas, quase impossível ser pego.

Comecei mal. Por uma simples e maldita foto 3×4. Tive que tirar umas 4 fotos, pelos motivos mais ridículos possíveis. 1 – Cabelo em cima da orelha. HÃ? Vão fazer o que com minhas orelha caralho? Por acaso eu fico irreconhecível com as orelhas tampadas? Ok, Tirei outra foto e levei lá. 2 – Não pode foto com camiseta de manga cavada. What is the fuck!? Cara, é uma foto 3×4, isso significa que é uma foto de rosto, isso significa que partes como meu ombro ou a camisa que estou usando não são relevantes na foto. Ok, como eu estava calmo, de bom humor e o sargento tinha um rifle, decidi tirar outra foto, nas mais perfeitas condições. 3 – O fundo da foto é escuro e a sua camisa é branca, não pode. Alguém dúvida que eu fiquei puto? Nem eu. Fiquei realmente revoltado com tamanha frescura dos tais “machões” do exército. Me revoltei, cortei o cabelo fui num profissional bem fódão de fotografia e fiz o que nunca pensei que ia fazer, troquei de roupa pra tirar foto 3×4.

Tirei a foto mais perfeita do mundo para me apresentar para os únicos gays, que não aceitam conviver com outros gays, há!

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Beleza, etapa concluída foto aceita. Agora era só voltar com meus amigos no final do ano para a seleção (foram comigo mais 2 amigos, inclusive o Allan teve o problema das fotos também, mas com menos freqüência).

Fomos. Eu, Allan e Miguel. Ficamos 2 horas em pé debaixo do sol escutando uma lista de chamada com 800 nomes. Não fomos dispensados. Oh fuck! Vocês 3 ficaram entre 100 de 800 pessoas? Não tão rápido, pequeno gafanhoto. Nessa primeira seleção separaram dois grupos de 400 pessoas, um grupo para ser dispensado por excesso de contingente e outro para ir pra próxima etapa da seleção, que era o nosso grupo.

Agora já não estávamos tão confiantes, mas ainda eram 400 pessoas, o mundo não ia ser tão injusto de me escolher, pensava.

400 pessoas separadas por ordem alfabética, para uma coletânea de testes. Se você for gay fale logo, que será dispensado, mas não se acanhe, o sargento (de porto-alegre) sabe reconhecer um gay de perto!

O primeiro teste foi o tradicional exame de vista, que você tem que acertar as letras na parede. O segundo foi o exame médico. O temido. Lendas sobre esse teste me atormentavam desde os 15 anos. Esqueça tudo, o médico esta pouco se fodendo se você esta doente ou não, apenas quer acabar logo com aquele serviço obrigatório. Você não precisa ficar pelado na frente de todo mundo e assoprar o braço pra ver se seu pênis vai levantar, muito menos fazer flexões ou algo do tipo, tudo conversa, o máximo que fizemos foi tirar a camisa e dizer se tínhamos algum problema.

A terceira etapa é teste físico, retiram suas medidas e medem sua força, mas nada de relevante. A quarta e mais bizarra etapa é o teste psicotécnico. Eu ri. Muito. Os testes eram mais ou menos assim: Na folha tinham 3 casas iguais desenhadas e um quadro em branco. As opções eram, uma borboleta, um cavalo, uma bola e adivinha, uma casa igual as outras três! Oh meldeols corram para as colinas! Errei várias de propósito, e com um pouco de sorte seria dispensado por problema mentais. Nessa seleção enviariam todos os resultados para Belo Horizonte que enviaria a lista dos 200 “aptos à servir”.

Voltamos em janeiro eu e mais 399, incluindo o Allan e o Miguel. E começou a chamada de baixo do sol de novo, e mais uma vez, eu, Allan e Miguel ficamos entre os 200 finalistas para prestar o serviço militar. Cara como assim? Três numa seqüência entre 800 é muita sorte, vou jogar na mega-sena amanhã, pensei. Minhas chances de “ser pego” pularam de 8% para 50 % . O legal (perceba o tom irônico no legal) de estar na seleção final, é que todos os 200 devem raspar o cabelo (mesmo que não esteja entre os 100 que irão ser escolhidos) e ficar pulando e fazendo combos de posições militares tão absurdas que tinha hora que eu achava que o sargento ia alcançar a velocidade 5 do créu. A e o melhor, o resultado final só sairia no final do mês (estávamos em fevereiro já) e deveríamos ir todos os dias as sete horas da manhã cantar o hino nacional olhando pro sol e aprender novos movimentos do “The king of fighters”. Pelo menos folgamos no carnaval, carecas mais folgamos. No penúltimo dia dispensaram os 100, Miguel foi dispensado e foi zuando agente o caminho todo de como seria nossa vida angustiante nas guaritas da madrugada enquanto ele estaria em baladinhas ou na sua aconchegante e mais confortável do que nunca cama. O Allan fez a mãe dele ir lá tentar convencer o sargento de que eles iam mudar para São Paulo, eu falei pro meu pai que não ia ter condições de trabalhar, o mesmo entrou em desespero afinal mais um ano com um vagabundo não é pra qualquer um. Mas não fiquem comovidos, nem tristes pois no outro dia, a, o outro dia! Um novo dia, ensolarado, cheio de esperança pairando no ar, um belo dia com campos floridos, um dia que eu nunca vou esquecer! O dia em que a crise me salvou. Por uma luz divina, o exército decidiu que este, exclusivamente este ano, iriam recrutar apenas 50 atiradores, devido à crise, para economizar com fardamento, munição, etc. Eu nuca pensei que gostaria tanto da crise.

Em mais de 50 anos de tiro de guerra na minha cidade, justo no ano em que eu me alistei e fiquei entre os 100, uma crise surge para fazer dispensarem mais cinqüenta! Nasci ou não com o orifício anal virado para o satélite natural da terra? Então meu amigo, nunca se desespere e tente pensar sempre pelo lado bom das coisas, no fim, de um jeito ou de outro tudo vai dar certo, (ou não) relaxa e goza.

* Post dedicado à X (pessoa que me deu a idéia de escrever sobre isso)

* Jorginho o mendigo honesto

* Não vou falar sobre Susan Boyle no terceiro asterisco.

11 Respostas to “Memórias de um aspirante à sargento de milícias”

  1. Juninho Says:

    E tem gente que não acredita em sorte?

  2. Gabriel Says:

    Fala bruno! Aqui é o Gabriel, amigo do Pedro, irmão do Izaias. Gostei do blog!..Bote fé no blog mesmo! Uns dos poucos meios de comunicação gratuitos e com liberdade de imprensa.

    Também estou com um blog, mas é meio panacão. Quero dizer, dois blogs. Um de poesias e textos mais ou menos amorosos e outro com textos as vezes engraçados mais um tanto medíocres.
    Ta ae:
    http://www.refugiolucido.blogspot.com
    e
    http://www.omeiodia.blogspot.com

    Respectivamente.

    Abraço brunão!
    se cuida.

  3. Miih Says:

    bruno! Eu tô lendo 10 linhas por dia dos seus posts!
    em 1 semana eu termino de ler esse texto todo!
    =*

  4. Diogo Says:

    dude, eu também fui pra ultima fase da seleção aqui em uberlândia, 50-50%, e depois de 5 dias comparecendo no quartel, foram convocados 200 neguim… rasparam a cabeça, se aresentaram… e foram dispensados 5 dias depois. Perdi uma semana das minha férias e 5 quilos fazendo “greve de fome preventiva” nessa palhaçada.

  5. Bubuh Says:

    LEIAM ISSO QUE ATENÇAOOOOOOOOO

  6. gustavo Says:

    isso é uma porcaria vcs parecem bichinhas com medo de se aliatarem, é melhor vcs irem brincar de bunecas…..kkkkkkkkkkkk. OTÁAAARIOSSSS

    • Bruno Marques Says:

      O fato de eu achar inutil e completamente desnecessário o alistamento militar não quer dizer que eu tenha medo de tal, seria medo se eu pedisse que ele brincasse com meus brinquedos e chamasse-o de otario anonimamente. beijos

  7. David Says:

    Concordo com você cara! Isso é uma palhaçada! Fui pego na minha cidade do tamanho da sua! Aff!!!

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